AQUELA CONSTANTE PREOCUPAÇÃO...
- Angelo Salignac
- 18 de jun. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 22 de ago. de 2021
Todos nós nos preocupamos de vez em quando. Às vezes, muito!
Preocupações e ansiedades são uma parte natural da vida. Mas quando se tornam obsessivas ou começam a interferir em nosso cotidiano, podem provocar estresse desnecessário e nos impedir de viver em todo o nosso potencial. Isso acaba resultando em perda de tempo e energia com coisas que provavelmente não acontecerão ou sobre as quais não temos controle.
Quando estamos preocupados ou ansiosos é possível que ocorram pensamentos negativos, que podem não ser percebidos no nível consciente: eles existem e provocam efeitos, mas não afloram. Acredita-se que temos até 60.000 pensamentos por dia, então é fácil perceber que alguns deles acabam passando desapercebidos...
Os pensamentos e seus padrões podem se tornar tão habituais que nem percebemos que estão acontecendo. O problema é quando nos habituamos a aceitá-los sem questionar se são realísticos ou não: só porque um pensamento parece verdadeiro, não significa que seja.
Quando se trata de ansiedade é importante ser capaz de distinguir entre aquelas advindas de eventos reais ou hipotéticos.
A preocupação gerada por um evento real e com potencial para ser solucionado é um sentimento legítimo. Um exemplo de preocupação real: depois de um desentendimento com seu parceiro, você se retira sem se reconciliar. Esta é uma preocupação genuína que está afetando você agora, mas há soluções possíveis: por exemplo, simplesmente ligar para se desculpar e buscar a reconciliação.
Uma preocupação por eventos hipotéticos, por outro lado, é diferente e tem uma característica interessante: elas tendem a começar assim: “e se ... ?”. Alguns exemplos que podem ser familiares:
"E se todo mundo me odiar?"
"E se eu errar?"
“E se eu disser a coisa errada e todo mundo pensar que sou um idiota?”
“E se eu nunca encontrar ninguém?”
“E se atropelaram meu filho e por isso ele está demorando?”
Em Psicologia, isso recebe o nome de “catastrofização”. Um nome feio, mas que merece uma explicação: a catastrofização é uma distorção da realidade em que a pessoa é pessimista e negativa em relação a situações que podem ou não acontecer, sem considerar todos os possíveis desfechos – apenas os piores. É uma tendência a imaginar catástrofes, de habitualmente esperar pelo pior. Claramente, pensamentos disfuncionais
Quando catastrofamos (desculpe: é mesmo um termo muito feio), adotamos uma visão pessimista que está fora de equilíbrio com a realidade e imediatamente pulamos para o pior cenário. A catastrofização é perigosa porque, sem controle, pode afetar fortemente nosso humor e nos impedir de viver ou desenvolver o nosso potencial.
COMO EVITAR SE PREOCUPAR SEM RAZÃO

O primeiro passo para parar com a ansiedade sem propósito é identificar claramente com o que você está se preocupando. Isso pode parecer óbvio, mas a preocupação excessiva às vezes pode ser tão apavorante e desvirtuada que perdemos de vista o essencial.
Tente identificar, o mais claramente possível, o que motiva a principal preocupação. Se você não tem certeza, o primeiro passo é começar a tomar consciência de seus pensamentos.
Quanto mais cuidadosamente examinamos nossos pensamentos, maiores as chances de detectar os que não ajudam (ou não são verdadeiros). Quando você se encontrar em um ciclo de preocupações, tente anotar cada uma delas, num aplicativo ou num caderno. Anote também o que você estava fazendo quando os pensamentos surgiram: onde você estava? O que estava fazendo? O que aconteceu?
Você pode começar a notar padrões em suas preocupações, seja em relação ao seu conteúdo (a mesma coisa surgindo repetidamente) ou talvez como elas são acionadas (estar próximo a uma pessoa específica, ou se preparar para ir para o trabalho, por exemplo).
Em seguida, verifique se sua preocupação é real ou hipotética; comece relacionando os fatos. Existe alguma evidência de que aquilo que provoca desconforto realmente vai acontecer? Existem evidencias que apontam para que isso não aconteça? Essa preocupação começa com “e se ... ”?
Se você acha que pode estar catastrofando, imagine o que diria a um amigo com uma preocupação semelhante: seria algo para tranquilizá-lo? Que tom você usaria? Em seguida, tente usar a mesma abordagem para si próprio.
Depois de constatar que a preocupação é mesmo exagerada, pense em como você pode reformular suas percepções. Qual seria uma resposta mais útil para a situação que provoca ansiedade? Em vez de pensar no pior cenário possível, considere qual poderia ser o melhor resultado possível. Então, por exemplo, mude de “E se eu falhar?” para “E se der certo?”
Se você chegar à conclusão de que sua preocupação é realística e se refere a algo que tem o potencial de efetivamente acontecer, a hora é de buscar a solução objetiva dos problemas: pense em todas as maneiras possíveis de solucionar o assunto. Lembre-se de que não é preciso chegar à perfeição: sendo algo que permita ações imediatas e plausíveis, ótimo! Do contrário, comprometa-se a deixar a ansiedade de lado por enquanto e volte ao problema quando houver tempo para dar adotar atitudes sensatas.
Essas condutas simples podem ajudar a parar de se preocupar exagerada ou inutilmente, dando tempo suficiente para escolher se a situação merece ou não seus cuidados imediatos (é possível que não!). Mas se você descobrir que essas – e outras – preocupações estão se tornando muito frequentes e chegam ao ponto de interferir no seu dia a dia, é muito importante buscar o apoio de um Psicólogo.
A preocupação excessiva e persistente pode ser um sintoma do transtorno de ansiedade generalizada (TAG), um mal que atinge inúmeras pessoas de todas as idades e condições sociais e econômicas.
Um terapeuta poderá ensinar técnicas para gerenciar melhor suas angústias e desenvolver intervenções personalizadas que permitam apoio para a superação de sua ansiedade disfuncional de uma vez por todas.
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